E tu …?
Existe um sítio, ninguém sabe onde fica nem o porquê de lá ir parar.
Um sítio medonho, hediondo, sórdido e enfadonho. Uma sala fria, húmida e sombria onde o escuro nos amedronta e o silêncio nos afronta. O tecto sujo, as paredes negras, da humidade e do caruncho, ondulam e estremecem, contorcem-se e até parecem… estar vivas e a sofrer.
Mas ao fim de algum tempo, ao fim de algumas horas damos conta de algo mais, a sala não está vazia, tem lá água e esta é fria. Não é água, não é bebida, é muita lágrima ali vertida por muitos e tantos outros ali retidos em seus confrontos, a chorarem como uns tontos sem saberem para onde olhar e esta maré horrenda não jaz nem está parada, está em constante movimento, pelas paredes é abanada.
De repente uma luz surge, somos nós ali presentes, o nosso reflexo, naquela maré contido, a olhar-nos desiludido. Um olhar de nojo e desprezo, por para ali o termos arrastado, um olhar de pena e compromisso, são os dois prisioneiros e nenhum escapa disso. Mas o nojo que ele sente, é tão grande e tão crescente que até ele nos abandona, vai embora e não retorna mas sozinhos não ficamos, pois mais reflexos nos surgem, são de outros que ali estiveram. Olham-nos com o mesmo desprezo, uns em pânico outros em desespero, pois por nós ali são retidos, nós damos vida á sala e eles lá ficam contidos, com seus choros e lamentações, rogam-nos pragas e maldições e flutuam naquela maré, destroçados e já sem fé, gritam de desespero e loucura, gritam de dor e amargura e aos ouvidos não dão descanso.
É ao fim de alguns meses que ao ruído nos acostumamos mas nessa altura de “descanso” cai do tecto uma gota que na água espalha alguns círculos como a pedrada no charco faz, apaga dali os reflexos e um pouco de sossego nos traz, mas não é o fim daquilo, não finda ali a tortura, este sossego aparente engana, este é sol de pouca dura. Pois tudo o que a gota fez foi manter-nos acordados, estar atentos e alertados, para tudo recomeçar.
É ao fim de alguns anos que estamos prontos para zarpar, para aquele local deixar, deixar outro ali chorar, para a sala alimentar, ela tem que continuar.
Já esquecemos essa sala, já lá vai e já não volta.
Já esquecemos essa sala? Já lá vai! E já não volta?
E tu, já lá estiveste?